terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Saudade


Aqui já não há mais folhas nas árvores e os alunos - que mal têm tempo para falar uns com os outros - encerram as últimas atividades do ano letivo. Saudade grande é do campus, de andar de uma faculdade para a outra, dialogando com as Ciências da Computação, a Biologia, a Filosofia, Nutrição, História, enfim; faz falta olhar para o lado e ver um mato sem fim e a terra rachada e sofrida do sol.
A associação torna-se aqui protagonista quando, pela saudade do que realmente se gostava, é fomentada uma vontade de reviver até aspectos de um outro ambiente hostil, do qual não gostava no Brasil.
Inicia-se uma nova visão daquela representação quando no Brasil, tanto das coisas boas como más. É fato, o mesmo processo ocorrerá em regresso. Mas agora, ao menos, não é uma viajem à terra que nunca.
Tem-se passado aqui problemáticas interessantes. Uma delas trata da obrigatoriedade: já somos normalmente obrigados a ser uma série de metas - à cumprir algumas normas e obedecer todas as leis - e ainda vê-se pessoas a criar cada vez mais regras e a trabalhar na dinâmica da obrigatoriedade e dos sistemas verticalizados. É realmente uma violência à peculiaridade, ao livre arbítrio, ao que mais gostamos de fazer (e fazemos isso bem!) e onde a liberdade pondera a realização é de fato prazerosa.
Pessoalmente ínsito que as coisas mais bonitas da vida são aquelas feitas com carinho. Por isso, em meio à alguns trabalhos (obrigatórios e não-obrigatórios), persisto numa pesquisa a cerca da Mídia e da Dismorfia Corporal em adolescentes, um estudo sobre o modelo padrão do jovem veiculado pela mídia, modelo este que se estabelece e influencia as pessoas a segui-lo, a desejá-lo.
Num ambiente de apelo ao prazer, poucos limites, muitas dúvidas e formação ideológica, alguns jovens têm encontrado nos transtornos alimentares, depressão, sexualidade e nas doenças psicofísicas como a Dismorfia Corporal, uma forma de se posicionar e constituir-se intersubjetivamente. É na adolescência que há uma busca constante por uma identidade própria e é influente a cultura de massa, através dos meios de comunicação (mídia), no estabelecimento de um modelo padrão de beleza para a determinação desse comportamento.
Alguns processos coletivos caracterizam marcadamente a concepção a cerca da representação do corpo, e por conseqüência sua valorização. A Revolução Industrial, por exemplo, afere repercussões significativas ao nível das representações do corpo feminino e masculino (Poeschl, 2004). O primeiro é considerado frágil, enquanto o segundo justamente o contrário. O homem é tido como um ser objetivo, onde seu corpo é um instrumento de trabalho e suas preocupações são financeiras e das atividades exteriores. Já à mulher são atribuídas atividades domésticas e maternas, caracterizando-a como um ser sensível, dócil e tímido (Lorenzi-Cicoldi, 1994).
Leta Stetter Holingworth (1916) afirma que o papel atribuído as mulheres na sociedade tem como único objetivo impedir que elas vivam uma vida própria.
Hoje, esse papel, tanto às mulheres quanto aos homens, em grande parte, está estritamente ligado ao consumo e a um processo mercadológico mais amplo. A mídia difunde expectativas (Friedan, 1963) às quais a aquisição de determinados produtos leva a seus alcances e utiliza-se de qualquer ideologia que lhe favoreça. A quebra de estereótipos, que elimina desigualdades (Connell, 1993) é hoje o que têm, por exemplo, expandido o mercado de cosméticos masculinos.
Já observado informalmente no Brasil, e não diferente cá em Portugal, a valorização têm se tornado motivo para a vida, a vida só é vida se for valorizada publicamente, não se faz valorizada unicamente por sua existência. Com a globalização e o desenvolvimento das telecomunicações, da indústria propagandista e da internet, essa existência passou a ser cada vez mais virtual do que vivencial; aliás, essa vivência passou a se dar virtualmente. As fotos ganham cada dia mais importância na busca -e por conseqüência- da maior valorização do visível. Chega-se então a um ponto em que o sujeito diferente dessa figura (ou que não tem a oportunidade, se quer, de aparecer nela) não se sustenta nesse mundo que o desvaloriza.
Existem então dois movimentos: um da sociedade em caminho da aceitação das diferenças e outro do sujeito, buscando aprender a viver bem com elas. O sujeito diferente do modelo-padrão permeia diariamente diversas “clínicas”, do discurso que dá-lhe indiretamente um diagnóstico: “você está mal”, e introduz um prognóstico: “temos a fórmula da vida”. O padrão e a fórmula são sempre mutáveis e vão alimentando o mercado, enquanto o sofrimento põe-se a desenvolver-se nesse discurso, até culminar nos consultórios (cirurgião plástico, psiquiátrico, psicológico), outra alimentação industrial.
Em plena biblioteca da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, pude encontrar mais uma dessas revistas, não só patrocinadas, mas criadas pela indústria da beleza. São cosméticos, clínicas estéticas, remédios de emagrecimento, modelos e histórias de vida a serviço do consumo.
Mas agora paro por aqui. Muitas inquietações têm sido cuspidas em meu texto. O tempo têm dado um pouco de trabalho para administrar. Continuo assim andando. (A foto acima já têm um certo tempo, o frio não têm me estimulado a tirar as mãos enluvadas do bolso)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Mudança



O hábito por muitas vezes nos leva a não olhar ao entorno, a não experimentar aquilo que a partida até nem conhecemos. Parece-me mesmo que o constante lidar com as diferenças, as adversidades e outras incongruências nos faz crescer e identificar-se cada vez mais, seja na mudança (inovando-se) seja na persistência (ratificando as características pessoais). Engraçado é que isso nos remete a um princípio teórico da Psicologia existente nos processos grupais, onde a presença do desviante promove a ênfase da identidade de uma determinada população, já que o diferente passa a ser exemplo a não se seguir. Quantas são as regras sociais parâmetro do comportamento humano qual o próprio homem não se dá conta no seu agir diário? É preciso então que o estranho lhe apareça para que o próprio perceba a existência daquele parâmetro do comportamento (Sollomom) antes camuflado pelo hábito.
O que tanto distancia pensar isso como um processo social ou individual? Imagina então que, no grupo, o antes “desvio” passa a ser normal, e que pessoalmente o estranho passa a inovar suas características, servindo agora como parâmetro. Ou imagina que o desviante é assim identificado permanentemente por uma população e que um sujeito discorda sempre de algo que lhe é incongruente. Vê-se então que a dinâmica dessa maioria está para a cultura tal como para as características da personalidade, ou melhor, esses se imbricam, modificando ou não essas duas instâncias.

Em uma nova morada, e já um tanto acostumado ao contexto europeu, assistir um filme que trata da guerra civil brasileira me faz pensar na representação que têm os portugueses frente às múltiplas imagens atraentes que, ao lado da triste cena de uma Tropa de Elite, passam por cá: um Brasil de um “Porto Seguro” praticamente primitivo. É divulgação dos extremos, que divide as pessoas entre os adoradores e os que querem distância. Apesar de tudo, muita coisa da cultura brasileira é passada nessa terra que, para grande parte dos brasileiros, acaba-se por ser só de Cabral. São as novelas, a música, a língua (com ênfase ao sotaque por alguns prestigiado), a culinária, enfim sem contar a grande quantidade de brasileiros que aqui vivem.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Puta Madre!


Apenas três dias foram suficientes para causar estranhamento ao português (tanto em língua como em comportamento). Além de estar em convívio com espanhóis, os sinais, anúncios de propagandas, símbolos que invadem a publicidade, os hábitos e costumes do um povo extremamente espontâneo.
Esses foram dias, diga-se de passagem, de peregrinação, primeiramente por alcançar a última etapa burocrática para minha estadia cá em Portugal: o Visto de Estudos, segundo porque, de Vigo à Santiago de Compostela, a falta de programação me trouxe enormes surpresas e coincidências como, por exemplo, a de infiltrar-me em uma visita guiada aos telhados da Catedral de Santiago, uma viajem no tempo medieval significando ainda mais a imponência física do lugar, que já quase não cabia em meus parâmetros.
A noite espanhola é encantadora. Deixar moedas entre as pedras nas tabernas centenárias, andar de café em café, cinema em palco de teatro, espetáculos musicais ou danceterias, cervejarias... enfim perambular diferentes lugares numa só noite foi para mim me sentir quase que cigano, ainda porque passando pouco tempo nos lugares e na própria cidade, acaba-se por conhecer pessoas especiais, mas que nunca mais se vê.
De qualquer forma, foi muito proveitosa a convivência nesse ambiente hospitaleiro. Espero conhecer outras cidades espanholas.