quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Para além dos livros

Andar pelo desconhecido é sempre uma experiência inusitada. Parece que há uma película de encantamento onde são gravadas nossas experiências. Passadas algumas cenas e repetidos os cenários, parece que a monotonia ganha foco. Mas não, há sempre um capítulo diferente, pois aqui - rei ou escravo da relatividade - existe sempre um estático ser em metamorfose.
Difícil é olhar para a janela e ver que o embasado fala um pouco de si, nas decisões a tomar e nos rumos a seguir. O frio quer impedir o andar, mas seguimos em busca do inusitado.
O agora conhecido Castelo de Guimarães, pode-se dizer que é um voltar às cenas dos livros de História, pela sua imponência de estrutura prototípica. No mesmo sentido caricaturável, dá-se para imaginar o sangue que um dia ali fora derramado, as princesas que chorando foram isoladas de seus amores, os cavalos vestidos, os trompetes a tocar; e ver o quanto Portugal se faz bonito na preservação de seus patrimônios.
O fim de ano se aproxima e os papais-noéis enchem as vitrines nos centros comerciais, é tempo de compras: de cama, mesa e banho, tem tudo de estar vermelho, com sinos e bangalas, seja em que parte do mundo for, cristão ou não, “não podes passar um natal sem comer um papai Noel de chocolate”. E o dito cidadão consciente fala: “Afinal, estamos no natal ou na páscoa. Chocolate é na páscoa, oras!”...
Enfim, entre essas querelas, as diversas atividades fazem não ter tempo para desenvolver mais a escrita, mas não quem sabe quando voltar da Espanha...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Panorama Educativo em Portugal




Chamo agora atenção para o desenvolvimento da disciplina de Intervenção Psicológica em Contextos Educativos, que após algumas pesquisas mais sistematizadas pode-se, com a parceria do colega de turma Luis Meireles, chegar a um panorama sobre a educação em Portugal.
Podemos assim problematizá-la, mas para encetarmos a crítica ao Sistema de Ensino Português consultou-se primeiramente a Lei de Bases dos Sistema Educativo, datada de 1986 com as revisões efectuadas no ano de 2005 e o Relatório do Programme for Internationtal Student Assessment (PISA) apresentado pela OCDE no ano de 2003. Conforme este último, os valores para a literacia nos domínios do Português e da Matemática encontram-se muito abaixo da média dos países participantes no estudo. De onde urge questionar quanto à qualidade de ensino e/ou aprendizagem.
Consultando a Lei de Bases do Sistema Educativo, e após breve leitura, facilmente acordou-se quanto à sua qualidade. Trata-se de uma lei assente em princípios válidos e democráticos, com um grande poder preditivo e que dá resposta a um sem-número de situações, de onde urge questionar se há uma boa aplicação da lei.
No fundo, a segunda questão colocada surge em resposta à primeira. Se não estiver assegurado cumprimento da lei reguladora do sistema de ensino então, o mais provável é que nem o ensino, por um lado, nem a aprendizagem, como outra face da mesma moeda, serão eficazes. O modelo vigente de actuação da escola no terreno é diferente do modelo que a lei encerra. Na escola, como pode-se aferir por experiência social, perdura um modelo atrasado, talvez ainda de transição entre o modelo instrutivo do regime fascista e o modelo que se pretende atingir, democrático e inclusivo. Há muitos serviços dos quais se pretende contemplar a escola e que ou não são exequíveis pela carência de recursos, ou sendo-o não são operacionalizados como a lei preveria. Por exemplo, o psicólogo que trabalha na escola, muitas das vezes, vê a qualidade do seu trabalho comprometida pela necessidade de dar resposta a um número exorbitante de alunos, intervindo unicamente num sentido remediativo, quando as funções previstas pela lei para o psicólogo escolar se centram mais na promoção e orientação do desenvolvimento pessoal do que na remediação de situações agudas.
Voltando, no entanto, a uma esfera mais “macrossistêmica”, no que concerne ao enquadramento do próprio Sistema de Ensino com os restantes sistemas sociais como o Sistema Económico e do Trabalho, com os quais deveria manter uma relação directa, muitas críticas podem-se tecer. De facto, num momento histórico e científico em que se acredita nas potencialidades da transdisciplinaridade, devemos comentar que o poder central, seja em Portugal ou no Brasil, dá um péssimo exemplo. Verifica-se, de facto, que o desenvolvimento social, motorizado pelo Sistema Educativo, poderia ser amplificado, caso houvesse uma melhor comunicação entre o Ministério do Trabalho e o Ministério da Educação. O Sistema de Ensino deveria ter em conta as necessidades do mercado de trabalho, não se alheando do sistema económico, ao invés considerando a economia como um elemento do “background” social preponderante. Como insiste Meireles:
No fundo, tudo se insere num sistema cíclico de Educação – Desenvolvimento – Trabalho – Economia.

Seria ótimo criar instâncias, de preferência não centralizadas, que mediassem as necessidades de cada um destes quatro pólos e a aplicabilidade das suas resoluções. Talvez aproximar os estabelecimentos de ensino dos de formação profissional, melhorar a qualidade e intervir a nível da representação social dos cursos médios, insistir numa orientação vocacional consciente (a nível dos planos individuais e dos planos sociais) e promover o ensino ao longo da vida vertical (no sentido da especialização num tema restrito) e horizontalmente (no sentido de desenvolver competências transversais e aprofundar conteúdos noutras áreas).
Sumarizando, a um Sistema Educativo regido por uma lei teoricamente eficiente correspondem resultados práticos fracos, embora exista a agravante de o sistema tender a afunilar-se, ao invés de contextualizar-se com os momentos sociais e económicos. A escola, pela qual o ensino é mormente operacionalizado, é ainda vista como uma entidade isolada, com funções sociais muito específicas e de acesso limitado. Numa era em que se procura uma efetiva inclusão social, criando-se estratégias para atingir esse fim como os cursos de Educação e Formação de Adultos, os Programas de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (CRVCC – Que certifica competências dos que não concluíram os estudos, podendo esses concursar-se onde antes não pudera), sentimos que há muito trabalho a realizar e que o estado lucraria mais com um trabalho de equipa entre os mecanismos da tutela da educação e os mecanismos da tutela do trabalho, do que cada um atuando isoladamente. Senão vejamos, os estudos realizados mostram déficits graves na literacia do Português e da Matemática (PISA), competências salvaguardadas pelo Sistema de Ensino. No entanto, os Programas CRVCC vêm atribuir qualificações a adultos (de uma forma claramente remediativa), não sendo esta uma medida que se possa relacionar com um aumento dos níveis de literacia. O estudo do PISA é realizado com jovens de 15 anos que continuarão a ter níveis de literacia baixos se, mais tarde, recorrerem, ou não, ao CRVCC (uma vez que este Programa se destina apenas a suprir as necessidades de qualificação profissional; é um programa certifica o que supostamente se tem). Seria, em suma, de interesse procurar um programa que considerasse qualitativamente todas as necessidades quer do Desenvolvimento, quer da Economia. No entanto, há que relembrar que quer o campo da Educação, quer o do Trabalho continuam a merecer as suas atenções específicas e especializadas.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Chega o Tempo


Um ponto intocado,

Um assunto até então guardado,
A Vontade esperando seu amigo,
E o Momento avisando que em breve chegaria,
Mas a Idéia acordou o Momento,
Mesmo, ha tempo, atento à Vontade,
De que aquela a si viria.

A vontade de ajudar os outros é tão grande quanto o benefício/aprendizado próprio. Essa é a lição que tem se repetido nos diferentes contextos, desde os brasileiros. A um mês observando as dinâmicas desenvolvidas em um Centro Social de uma das freguesias portenhas, surge uma idéia ao ver o interesse de alguns jovens por algumas perucas.
A essas últimas podemos associar também as máscaras, fantasias, enfeites e demais adereços que são instrumentos a muito utilizados pelo teatro. Através deles, atores - veteranos ou iniciantes - podem extravasar sua criatividade, seja no inventar de um personagem e sua história ou no desenvolvimento técnico teatral para caracterização do mesmo.
Há ainda uma faculdade projetiva da competência psicanalítica que contribui neste embasamento teórico, porém especificar-se-á aqui o que Vigotsky, em “La imaginación y el arte en la infância” (Madrid, 2003), chama de atividade reprodutora e criadora, definindo que na atividade humana existem, em diferentes níveis, a reprodução de algo já passado ou criação através da memória e/ou imaginação.
Esta última, longe do que se convém no senso comum (de ser algo irreal), é a via de acesso para tornar ativo o que presente está no imaginário, seja reproduzindo algo já passado, seja criando algo novo.
Mais especificamente, a imagem é uma forma que o objeto tem de se apresentar na consciência. Imaginar o objeto é diferente de imaginar a imagem (figura, filme) que esta produz. Quando se imagina algo, a atenção é voltada ao objeto que, na relação, pode produzir múltiplas imagens.
Essas múltiplas imagens formam a representação, ato de conhecimento que consiste na reativação (re-apresentação) de uma lembrança ou imagem e que, no sujeito, são constituídas pelas imagens dos objetos e fenômenos resultantes das experiências anteriores. Então, no processo de percepção e como o próprio nome aponta, o objeto se impõe em sua objetividade; na representação, nem ele, nem a imagem se apresentam, ambos são encontrados dessa vez no subjetivo. As imagens são conteúdos representativos implícitos de alguns elementos sensoriais do objeto, guardam aspectos figurativos da realidade, porém resvalam em subjetividade (Paim, 1912).
Dessa forma, o objeto é carregado pelo indivíduo por imagens e é essa impressão que lhe dá um discurso, uma idéia de imagem e essa do objeto. Isso porque toda imagem está penetrada de saber, memória, afetividade e criatividade. Para essa contribuição teórica, o que vêm a produzir o sentimento no indivíduo é a concepção resultante da reciprocidade imagem/discurso. Conteúdo esse refletido na prática das criações teatrais e objetivo da vontade/idéia a semanas guardada, prática jás tornada e de “Projeto CriAr-te” denominada: criando a arte e extravasando sentimentos, transbordando subjetividade.
Um fato simples, mas que não poderia deixar passar, é que as leituras em espanhol (algumas delas já estimuladas em território Alagoano) têm contribuído veementemente para os estudos no Porto. Apesar de ter cá muitos escritores, os temas de interesse pessoal têm sido encontrados em geral na literatura espanhola ou ainda em suas traduções, uma língua que soa muito emocionante.

Como se não bastasse para relembrar uma semana, surge numa visita inesperada uma amiga de uma relação conturbada, de meses em que as providências invadiam nossos sonos e sonhos, uma estudante em intercâmbio.
Vindo de Lisboa, chega ao Porto e nas primeiras conversas já delata diferenças regionais: olhos sociológicos de uma bióloga em graduação numa conversa infindável, entre desabafos e reflexões a cerca do aqui e agora, na troca de experiência que conduziu os assuntos da comicidade existente no encontro com a alteridade aos sentidos do progresso científico.
Atento para o fato de que o desenvolvimento científico se dá a partir de novas descobertas, que acabam, por um lado, a criar novas necessidades promotoras do maior desenvolvimento humano em suas faculdades, mas por outro, especificamente quando a ciência vive em função da criação de novas necessidades - ou seja, quando as têm como princípio - escraviza populações, no estabelecimento de um novo padrão: de educação, saúde, bem estar.
Enfim, quando ligam-se à isso noções de desenvolvimento, pensamos: desenvolver o que, para que, como e para onde? Debate já trabalhado por Bader no Brasil e que não será aprofundado aqui.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Uma semana normal


Iniciar uma semana como tem sido ao fim dos dias: cansado e feliz. É, realmente não foi uma das melhores experiências, mas a fraqueza tinha força suficiente para conduzir os estudos.
Aos poucos, entre uma conversa e outra nos corredores, demais viajantes pareciam se apresentar. Mas não, eram os primeiros traços do inverno e, em meio a toda aquela constipação, um sorriso pessoal fez face ao cansaço e os trabalhos deram continuidade.
Pensar numa ideologia que acaba por atingir a normalidade dentro de uma civilização e divergindo das demais, e essa cultura, à utilizar seus parâmetros para conceituar o que lhe é - no caso - saudável, reavivou o sentido de que o próprio estudo dessa cultura perpassa as representações de uma primeira.
Fora na perspectiva de considerar a posição (Berlink, 1997) como base constituinte de diferentes subjetividades ou realidades que se deu o entendimento dessa dinâmica e ver o quão inerte é nosso pensamento, deu ainda mais sentido nomeadamente sob o modelo Bio-Psico-Social e a Perspectiva Ecológica e Transacional.
É... será mesmo uma semana normal?